15 de fevereiro de 2017
Este
é um espaço de relatos, considerações e observações a respeito do processo de
pesquisa do projeto "Ritos de Morte: apontamentos para uma etnografia
audiovisual", aprovado no Edital Setorial de Audiovisual 2016 -
Desenvolvimento e Difusão da Secretaria de Cultura do Estado da Bahia –
SecultBa.
Trata-se
de uma pesquisa não necessariamente universitária, mas, nos termos da sua
própria ideia original, algo entre os critérios de uma investigação acadêmica e
uma pré-produção para um futuro documentário.
Por
aqui partilharei alguns dos caminhos e descaminhos do projeto, das
oportunidades incríveis que o trabalho de campo traz, principalmente ao lidar
mais de perto com o universo das tradições orais, das culturas imateriais. Um
lugar para registrar os percursos, ideias e até mesmo os perrengues que sempre
acompanham essas empreitadas. Aliás, sem eles não há pesquisa. Por isso, aqui
também vai haver muita choradeira, muita fase travada, muita paranoia que
parece descer como uma assombração sobre quem se dedica a produzir uma pesquisa,
uma espécie de sombra que acompanha quase que obrigatoriamente os destemidos
que se enveredam por essa seara.
Bem,
mas que diabos é esse projeto afinal? O nome sugestivo dá uma dica, mas não
esclarece. Explico: proponho estudar um pouco sobre outras visões de morte que
não estas que conhecemos nessa nossa sociedade de cultura e religião judaico
cristã, No Brasil, isso significa enveredar pelo sincretismo, e nele buscar
entender os rituais de morte baseados nas culturas sobretudo de matrizes
africanas, que expressam perspectivas peculiares no imaginário popular,
pontuando crenças na mortalidade/imortalidade, invulnerabilidade, “latumias” e
transmutação física. Visa gerar informações para a reflexão sobre traços dessas
culturas no registro de seus saberes e fazeres. Uma experiência de aproximação
entre a pesquisa documental etnográfica e uma consequente proposta de produção
de uma obra audiovisual.
Irmandade da Boa Morte | Foto: Roberto Faria |
Para
tanto, selecionais três campos/locais de investigação: o povoado do Cinzento,
comunidade remanescente de quilombo, na zona rural do município de Planalto,
Bahia, lugar que ainda mantém fortes traços de valores e comportamentos sociais
de seus antepassados; a Irmandade da Boa Morte, em Cachoeira, Bahia, ordem
religiosa católica, cujos membros têm um percurso entremeado com as tradições
afro-brasileiras; e o Weltkuturen Museum, em Frankfurt, na Alemanha,
instituição renomada que mantém um do mais acervos importantes acervos sobre as
culturas de todo o mundo, local ao qual poderei fazer buscar referências e
contrapontos acerca do que encontrar nos caminhos dessa investigação.
Os
resultados do projeto Ritos de Morte serão disponibilizados ao longo da sua
execução nesse blog para quaisquer pesquisadores e demais interessados e, ao
final, exposto em um artigo especialmente produzido com os resultados da
pesquisa, além de uma pequena exposição virtual, em formato de banneres. Como
produto final também entregarei um projeto técnico para a produção de um
documentário sobre o tema. Mas esse, por enquanto, vou guardar só pra mim e
para a SecultBa, até poder colocar em fase de produção. Lógico, né?
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